sexta-feira, abril 19, 2024

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A Gratidão por Antonio Carlos “Bolinha” Pereira

Foto Arquivo Pessoal

por Antonio Carlos “Bolinha” Pereira, orador da Scajho

Ele não quis acreditar. Pela enésima vez era interrompido enquanto preparava o desfecho que planejara. Agora era a campainha a soar, insistente. Antes a sirene de uma ambulância o distraíra e atendera uns quinze telefonemas (talvez tivessem sido apenas três, ou quatro, mas quem iria discordar?). Sem contar as discussões do casal do andar inferior, alguém precisava falar praqueles dois que se separassem de uma vez!

Relembrou tudo isso enquanto calçava os chinelos e colocava uma camiseta para atender a porta. Caminhou vagarosamente, pensando nesse tempo que estamos vivendo… tempo de agradecer, de retribuir cada gesto de solidariedade que temos recebido. Tempo de exercitar a generosidade, a compaixão, a fraternidade, a paciência, e com muita fé e resiliência enfrentarmos o que ainda trará essa pandemia.

Nessa época as pessoas se preocupam em limpar e enfeitar suas casas para o Natal. Mas há muito mais do que isso para limpar: devemos fazer faxina também nas nossas almas e nos nossos corações.

Tirar a poeira e as teias de aranha da casa, enquanto tiramos os maus sentimentos do coração: ódio, mágoa, ressentimento, inveja, egoísmo.

Afastar os móveis para fazer a limpeza e também afastar atitudes negativas como preconceitos, pré-julgamentos, rejeição, condenação, críticas, grosseria, mentiras, maledicência, avareza, cinismo… Limpar as janelas, mas limpar também o olhar, para enxergar as pessoas à nossa volta e prestar atenção aos sentimentos e necessidades delas.

Ele pensara ter demorado pouco nessa reflexão, mas quando abriu a porta já não havia ninguém. E ao fechá-la viu um envelope que ficara oculto pelo tapete. Curioso, tratou de abri-lo e sentou para ler aquela escrita, caprichosamente caligrafada:

“Prezado Senhor

Escrevo estas mal traçadas linhas para lhe confessar algo que nem mesmo aos mais íntimos ousei contar. Estive para tirar a vida neste final de semana. Tudo parecia dar errado para mim, não vou entrar em detalhes que não lhe interessariam, e nem quero perturbar quem me impediu de cometer o gesto derradeiro. Sim, preciso lhe confessar: só não atentei contra minha própria vida graças ao seu conto ‘E A Vida, O Que É?’

Ali reencontrei a alegria de viver, pois seu alto astral, seu estilo de bem com a vida me reanimou e fez esquecer as coisas ruins que eu enfrentara. E ao final do seu texto a citação da poesia do Gonzaguinha foi decisiva e fez eu mandar meus demônios de volta pro inferno (de onde eles não deveriam ter saído para me perturbar). ‘Eu sei que a vida devia ser bem melhor e será. Mas isso não impede que eu repita: é bonita, é bonita e é bonita …’

Deus o Abençoe!

Um Leitor Agradecido

Aquilo “pegou na veia”. Leu e releu aquelas poucas linhas. Chorando, foi até a pia e jogou pelo ralo o veneno que tão cuidadosamente preparava para ingerir quando a campainha, tão insistente, soara meia hora antes.

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